Carlos Augusto Baptista de Andrade
Li quando garoto
que Pásargada
é um lugar maroto,
Manual deve estar lá
com alguém
tomando chá
na cadeira 24 da Academia.
Aqui tá chato,
tem gente cheia de ódio,
desordem federal,
Lá deve ser legal,
Bandeira é amigo do Rei,
não que eu queira ter pistolão,
afinal armas são proibidas
na cidade, só penas e tinteiro,
correm o dia inteiro
pela mãos dos artesãos.
Quero só ter alguém,
saber que serei acolhido
como todos que sonham,
sem ou com enxoval,
completamente natural.
Eu nem sei direito,
mas Covid aqui não me deixa
andar de bicicleta,
Lá pode, dó, ré, mi também.
Até Rio tem pra reclinar a cabeça,
sem chacina, sem pobreza,
sem torpeza.
Poderei escolher minha aventura,
sinal de que lá
deve ser melhor do que cá,
não precisarei das prostitutas,
não menosprezando o trabalho delas,
são importantes em suas labutas,
mas terei minha alma gêmea,
estará lá como cá.
E por fim, ainda que ele venha,
não importa,
pois viverei
na terra que escolherei,
democrática,
faceira,
ligeira a fazer o bem,
sem olhar a quem.
Manuel! pode hastear Bandeira,
aguarde-me:
vou, também, pra Pásargada,
ser amigo dos amigos do Rei.