Pela Lapa Vendo a lua por uma lupa Comendo frutas e filosofias Com o coração numa garrafa O engarrafamento da luz dos carros Colidindo com faróis fechados Até a estação de transe O trem passa carregando meus sonhos Como os diálogos de um filme sem ângulo Abismos até o ponto de ônibus Aonde o tempo não morre de pressa e a vida segue sem preço nas planícies habitadas por sem tetos sem tempo E tempo é dinheiro Vale ouro ou vale horário A falta de emprego A falta de amparo A vida é uma ópera Uma tragédia operária Esse sonho é um ensaio O ator principal desce do palco E abandona o teatro Atrás da cortina de aço ouço as onças Ânsia e insônia no ônibus Surto insumo e insegurança São negócios ou só os fósseis do ofício Dois dias depois é dia dos pais Distribuição de maço E open bar de chá de sumiço É melhor manter silêncio Crianças pedem socorro Enquanto correm contra os carros Será que deus se escondeu Na espera do desespero? Ateus nas igrejas com a fé no inferno Latas de atum são como os livros do Lutero Sem mais espaço O ônibus já cumpriu o seu excesso O último passageiro é o encaixe da última peça E na sorte a solução é o sucesso do sofrimento Mais um dia Outro emprego e a vontade de viver cego
Imagem de capa: Maaark por Pixabay.