Colunistas

Poema “1”

Pela Lapa
Vendo a lua por uma lupa 
Comendo frutas e filosofias 
Com o coração numa garrafa
O engarrafamento da luz dos carros 
Colidindo com faróis fechados
Até a estação de transe
O trem passa carregando meus sonhos 
Como os diálogos de um filme sem ângulo

Abismos até o ponto de ônibus
Aonde o tempo não morre de pressa e a vida segue sem preço nas planícies habitadas 
por sem tetos sem tempo

E tempo é dinheiro 
Vale ouro ou vale horário
A falta de emprego 
A falta de amparo 
A vida é uma ópera
Uma tragédia operária 
Esse sonho é um ensaio
O ator principal desce do palco 
E abandona o teatro
Atrás da cortina de aço ouço as onças 
Ânsia e insônia no ônibus
Surto insumo e insegurança
São negócios ou só os fósseis do ofício 
Dois dias depois é dia dos pais 
Distribuição de maço
E open bar de chá de sumiço 
É melhor manter silêncio
 
Crianças pedem socorro 
Enquanto correm contra os carros 
Será que deus se escondeu
Na espera do desespero?
Ateus nas igrejas com a fé no inferno 
Latas de atum são como os livros do Lutero
Sem mais espaço
O ônibus já cumpriu o seu excesso
O último passageiro é o encaixe da última peça 
E na sorte a solução é o sucesso do sofrimento 
Mais um dia
Outro emprego e a vontade de viver cego

Imagem de capa: Maaark por Pixabay.

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